Imagem do Corpo, um conceito controverso
- Joana Oliveira e Marta Fonseca
- 21 de abr. de 2017
- 3 min de leitura
A crónica desta semana pretende explorar o conceito de imagem corporal, pois este tende a ser controverso entre estudos, bem como tem tido uma evolução ao longo dos tempos.
Segundo (Guiose, 2015), a imagem do corpo designa as perceções e representações mentais que temos do nosso corpo, como objeto físico, mas também carregado de afetos. É a dimensão imagética do corpo e pertence ao imaginário, ao inconsciente, tendo como suporte afetivo. É a primeira representação inconsciente de si, representação que assume o corpo como princípio unificador, que delimita o dentro e o fora (Schilder cit in Guiose, 2015). Para Kephart (in Fonseca, 2005) a imagem do corpo envolve a capacidade de organização neurológica integrada nas capacidades motoras (postura, lateralidade e direccionalidade), é a noção que o individuou tem do seu próprio corpo em todas as vivências interiores e nas situações de exploração e orientação num mundo exterior.
Um dos primeiros autores a tentar definir imagem corporal foi Schilder, em 1935, sugerindo ser esta o desenho que, na nossa mente, formamos do nosso próprio corpo, ou a forma como vemos o nosso corpo. Para este autor, a imagem corporal altera-se ao longo do tempo e segundo as situações, sendo influenciada por um variado conjunto de experiências sensoriais. Schilder (1968) reconhece ainda a importância das relações sociais, culturais, psicológicas e fisiológicas na formação da imagem corporal (Vasconcelos, 1995).
Contudo, tem sido difícil a definição de imagem corporal pela comunidade cientifica, uma das razões para tal facto prende-se com a diversidade de interpretações de um mesmo conceito, resultante de uma diversidade de definições provenientes de diferentes domínios do conhecimento científico (neurológico, psicológico, psiquiátrico, psicanalítico, psicomotor, genético, social, etc) (Araújo, 2001). Assim deparamo-nos que a forma como entendemos a imagem do corpo depende do olhar da área cientifica que recai sobre este conceito. O que pode, sem dúvida, criar bastantes dúvidas quando interagimos e precisamos de discutir com outros profissionais.
A imagem corporal pode ser conceituada como uma construção multidimensional que representa como os indivíduos pensam, sentem e se comportam a respeito de seus atributos físicos, é modificável refletindo desejos, atitudes e interação com outras pessoas e se constitui na figuração do próprio corpo formado e estruturado na mente (Oliveira, 2015).
Este conceito, de imagem do corpo, evolui em três estádios (Merleau-Ponty, 1962, citado em Vasconcelos, 1995). Primeiro considerou-se a imagem corporal como somatório das sensações corporais. Depois definiu-se como a relação entre as várias partes corporais e as sensações, sendo a imagem corporal superior ao somatório das partes corporais. Atualmente, defende-se a perspetiva dinâmica, segundo a qual a imagem corporal é um constructo que se modifica permanentemente através da inter-relação com o mundo exterior (Araújo, 2001). Definição esta que será explorada no trabalho.
Desta forma percebemos que a imagem corporal pode ser dinâmica ao longo da vida, dependendo tanto de fatores externos como de fatores internos, como as alterações do próprio corpo, da forma como o sujeito o vê, como da experiência que tem das opiniões externas e da forma como o corpo de adapta ao ambiente externo. Nas várias fases do desenvolvimento esta imagem pode sofrer modificações, colocando em causa não só a forma como nos entendemos, mas também como a sociedade nos vê. Em situações mais traumáticas (como nos Acidentes Vasculares Cerebrais) em que o corpo se vê de forma brusca ou prolongada no tempo a lidar com alterações derivados de traumas, vai também influenciar a imagem corporal do sujeito. A nível terapêutico é importante percebermos estas alterações e trabalha-las, pois a imagem do corpo tem um forte impacto na saúde mental. A Psicomotricidade, nestes casos, geralmente também não incide só na pessoa, procura uma intervenção mais completa possível e desta forma, neste caso especifico, procurará intervir tanto a nível do paciente, como na família e equipa clínica.
É importante, enquanto terapeutas que se destacam pelo olhar holístico sobre o ser humano, entendermos bem este conceito de imagem do corpo até porque o próprio conceito é tão vasto como o ser humano contemplando a história do seu passado, a vivência do seu presente e mesmo a sua representação no futuro.

Referências bibliográficas
Araújo, S. A. P. (2001). Satisfação com a Imagem Corporal, Autosestima e Variáveis Morfológicas. Universidade do Porto.
Fonseca, V. (2005). Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem (1a). Lisboa: Âncora Editora.
Guiose, M. (2015). Esquema corporal e imagem do corpo. In Atualidades da Prática Psicmotora (pp. 29–52). Rio de Janeiro: Wak Editora.
Oliveira, A. R. C. de. (2015). Influência dos padrões estéticos na imagem corporal de um adolescente do genero feminino: Um estudo com professores e alunos na educação física escolar. Universidade de Lisboa.
Vasconcelos, M. O. F. (1995). A Imagem Corporal no Período Peripubertário: Comparação de Três Grupos Étnicos Numa Perspectiva Biocultural. Universidade do Porto.
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